Comparar o incomparável
Hugo RomanoEste texto podia ser aplicado a muitas actividades, a muitos eventos mas, no momento actual, o tema é epidemiológico e, como tal, tentarei apresentar alguns exemplos.
Nestes últimos tempos, muitas pessoas afirmam que a mortalidade é maior na estrada, ou noutras doenças não infecciosas do que na CoViD-19 (Doença por infecção de SARS-CoV-2). De facto, se olharmos apenas aos números da mortalidade em termos planetários, sem uma análise por zonas de foco, dá ênfase à teoria da “gripezinha”. Em 2019 faleceram na estrada, a nível mundial, 182 pessoas por milhão (p.p.m.) enquanto que a CoViD-19 até hoje ceifou a vida a 39 p.p.m., se extrapolarmos um pouco com contas de merceeiro, num ano este número deverá ser de 105 mortes por milhão de pessoas. Novamente e superficialmente, parece ser verdade esta história da “gripezinha”.
Ora, a sinistralidade rodoviária não tem número básico de reprodução R₀ (a capacidade de um mau condutor infectar outro condutor que se tornará mau condutor), mas tem “vacina”, sim, como a educação rodoviária, formação, sinalética, etc.
Os números actuais da CoViD-19 são os acima indicados porque todos alterámos comportamentos e aceitámos sacrifícios, e ainda bem, porque o potencial para uma catástrofe está lá. Se observarmos os focos de contágio da CoViD-19 relativamente à mortalidade global em 2019, em menos de meio ano, Bergamo, em Itália, conta com +463% de mortes, a cidade de Nova Iorque nos Estados Unidos da América com +299%, Madrid, Espanha +161% e Estocolmo, na Suécia com +75%, (fonte Financial Times, 26 de Abril, 2020).
Comparar o incomparável é uma distração ou uma falsa esperança/convicção. Se existem soluções, então que se reduza a sinistralidade rodoviária! Já a nível da saúde pública, se aplicarmos no dia a dia as regras sanitárias e de protecção para a Covid-19 podemos também reduzir as gripes, as infecções hospitalares, os surtos alimentares por Salmonella e muito mais…